domingo, 26 de dezembro de 2010

MEU PASSEIO PREDILETO POR ROMA

03.12.2010 



A morte em cada esquina




 Esse passeio mostra lugares aonde loucuras aconteceram durante a Idade Média e renascentista em Roma, aonde a regra era matar ou morrer. Nessa época príncipes, papas e nobres eram muito cruéis e gananciosos, e eram capazes de tudo para manter o poder, e estavam acima da lei ( na verdade, era uma época meio sem leis..). Um grupo que sofreu muito – que é o tema desse passeio – foram os judeus. Muita gente sabe, eu provavelmente nasci judia de alma, então saber o que aconteceu com os judeus em Roma foi quase como uma facada no meu coração. Acho que este foi o passeio mais importante que eu fiz em Roma.

Os judeus chegaram em Roma em 139 a.C. Nessa época, os romanos eram pagãos e aceitavam com facilidade os judeus. Depois, com o fervor católico, um papa ordenou a construção de um “gueto murado”, e obrigou os judeus a assistirem sermões católicos. Os muros do gueto judeu em Roma só foram derrubados em 1888!!!

O Primeiro lugar que eu visitei foi o campo dei Fiori, que hoje é um lugar 
bonito, super movimentato, com uma feira de manhã e com bares abertos à noite. Antigamente, aqui era um local de execuções públicas durante a inquisição. No centro da praça tem uma estátua, que é do filosofo Giordano Bruno, que foi queimado aqui, acusado de Magia Negra.


Canpo dei fiori e sua simpática feirinha.


Depois, eu fui para a Piazza Farnese. Giulia Farnese foi amante do Papa, e assim ajudou a sua família a ascender socialmente. O irmão de Giulia, se aproveitando da situação, veio a se tornar o papa sucessivo, e acumulou riqueza suficiente para construir o palazzo desta piazza, que hoje abriga o consulado da França, que paga 1 euro de aluguel, a cada 99 anos.


A praça, com o consulado da França à esquerda.



Saindo da piazza, e contornando o consulado Francês, eu encontrei a Igreja Santa Maria dell’Orazione e Morte, que estava fachada (adivinha: horário de almoço). Os monges desta igreja tinham o fardo de cuidar de corpos não reconhecidos, que eram tantos na época em questão. Os monges expunham os corpos publicamente esperando que alguém reclamasse por eles. Se ninguém reclamava, eles providenciavam um enterro cristão à esses indigentes.





Depois eu percorri a Via Giulia, que foi uma importante via de peregrinos que iam à são Pedro. A mãe de Napoleão morou nesta rua! A fonte Giulia dava vinho ao invés de água, em dias festivos (humm, conheço essa história!)


Depois eu fui para o palazzo spada, que foi erguido em 1550 para o cardeal capodiferro, que tinha do lado  a Igreja Trinità dei Pellegrini, que cuidava de peregrinos doentes.


Via Giulia


Depois, eu fui para a Piazza Cenci. Este poderoso clã ( a família cenci), era um dos encarregados de vigiar o gueto judaico, e o patriarca da família tinha fama de mau. Dizem que a filha, Beatrice, era muito bonita, mas o pai a mantinha trancada para não ter que pagar o dote caso algum homem se apaixonasse por ela. No fim do século 16, a família Cenci armou um plano para matar o patricarca (meu, a família bolou um plano para matar o pai, como assim??), e o matou a marteladas e jogou o corpo no rio. Porém, o plano foi descoberto quando encontraram os lençóis da família manchados de sangue. Para dar uma lição aos aristocratas romanos, cada vez mais inescrupulosos, o papa mandou decapitar Beatrice (coitada!), sua madastra, e seus irmãos mais velhos. Só foi poupado o irmão mais novo, que tinha 10 anos e que com certeza ficou traumatizado e também se tornou um homem mau.


A casa aonde todo o desastre aconteceu.



Depois eu fui para a Piazza delle Cinque Scole, que é o centro do gueto judaico. As famílias judias ficavam segregados na praça do nascer ao por do sol, e a entrada principal do gueto era nessa praça. Os judeus romanos ganharam finalmente a cidadania italiana em 1870, mas os muros foram derrubados só em 1888. A ascensão de Mussolini teve trágicas conseqüências para essa comunidade. Em 1935, foram adotadas leis raciais que restringiam os seus direitos. Depois que a Itália se aliou à Alemanha, os judeus foram alvo de perseguições alemãs.


No fim da via que dá na praça, tem as ruínas do templo de Jupter e Juno, 
erguido por Augusto em 23 a.C. Na idade Média, a Igreja Sant’angelo foi construída aqui, e era aonde se obrigavam os judeus a assistirem sermões cristãos.


Gueto judaico...

...e ruínas


Depois de ver as ruínas, eu segui por uma via até uma pequena igreja. Nesta via, tem uma praça que se chama Largo 16 ottobre 1943, que lembra o dia em que os alemães cercaram o bairro judaico e mandaram 2091 judeus para os campos de concentração na Polônia. Destes, apenas 16 sobreviveram.


Depois, eu segui até a ponte  Fabricio, que é uma das mais antigas de Roma, de 62 a.C. Segundo a lenda, conquistadores romanos voltavam da Grédia de navio, em 293 a.C, com o saque do templo Esculápio, deus da Medicina, quando uma serpente sagrada saltou no barco. Isso foi sentido como um sinal de que um templo ao deus da medicina devia ser construído no local. Hoje, a ilha por onde passa a ponte tem farmácias e centros de estudos de medicina.



Isso está construido sobre uma ponte!


É a ponte vecchio romana!


Quando o passeio acabou, eu fui dar uma voltinha pelo bairro trastevere, um dos mais tradicionais de Roma. Porém, eu tava meio atordoada com o passeio do gueto judaico, e não tirei nenhuma foto, não prestei atenção em nada, e ainda por cima me perdi nas ruas tortuosas. Foi um desastre, e os privo de contar isso...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O DIA DO EXCESSO DE INFORMAÇÃO!

02.12.2010 


Acordei cedinho para aproveitar o dia de sol (finalmente!) e mandei bala em 3 passeios. Aí vão:

Passeio 1 - Dias de calamidade no Borgo




Fiz um passeio pelo Bairro do Borgo, vizinho ao Vaticano. Começei o passeio na Porta Santo Spirito, que foi construída por Michelângelo e seu amigo. Os dois viviam sempre discutindo sobre o que fazer no projeto (conheço essa história...), e no fim, o projeto nunca foi concluído; e os dois perderam a amizade (conheço essa história...)


Porta Santo Spirito


Aí, eu entrei na Igreja S. Spirito in Sassia. Eu só olhei a igreja, mas na verdade lá tem um complexo, bancado pelo Papa Inocêncio III como hospital e abrigo para pobres. Durante o saque de Roma, em 1527, os soldados invadiram o abrigo e mataram os órfãos, sei lá para quê!


Igreja S. Spirito in Sassia



Depois eu cheguei na Via della Conciliazione, obra idealizada pelo nosso amigão Mussolini. A idéia dele: demolir duas ruas medievais, para fazer uma avenida bem largona que desse uma visão direta da piazza de São Pedro, e da Basílica. Mandou bem, destruiu a história do bairro medieval! Essa avenida foi construída para simbolizar a reconciliação entre o Governo e a Igreja Católica (ai, que amor..). Mas, aí vão as fotos..(fotos 009 e 048)


 Via della Conciliazione

 Via della Conciliazione


Nesta Via, está a Igreja Santa Maria in Traspontina, que é uma Igreja construída em homenagem aos soldados que morreram defendendo o Castel Sant’Angelo duranque aquele saque doidão de Roma. A Igreja foi construída em cima de onde – na Idade Média – acreditava-se estar o túmulo de Rômulo, da história de Rômulo e Remo que todo mundo conhece.. (fotos 11, 12, 15 e 18)


Igreja Santa Maria in Traspontina



Igreja Santa Maria in Traspontina

Igreja Santa Maria in Traspontina

Daí, Tcharan! Depois de 2 meses e meio em Roma eu finalmente fui na Piazza San Pietro. Descobri que as pedras usadas nas 284 colunas da praça foram roubadas do Coliseu (e tantas outras pontes também foram construídas com pedras roubadas do coliseu). Diziam que as cinzas de Júlio César estavam no topo do obelisco que tem no centro da praça – que é uma elipse perfeita  – mas era tudo mentirinha, descobriram depois. Bom, é aqui aonde o papa vem dar bom dia aos fiéis, acenando na janela, é aqui que os novos papas são eleitos, e aonde os atuais papas vivem. Tudo é carregado de simbolimo, e de repente da vontade de saber tudo sobre símbolos para entender o que cada coisa significa. Não entrei nos Musei Vaticani, porque vou fazer isso com alguém que vier visitar Roma, para não ter que pagar 2 vezes, já que o ingresso é meio carinho!


Piazza San Pietro

Piazza San Pietro

Baixo relevo de Bernini, do anjos e demônios!





Vale adicionar mais 2 curiosidades sobre a praça São Pedro: a primeira é que as 284 colunas foram feitas com mármore roubado do Coliseu (hãan, malandrinhos), e a segunda é que no chão da praça estão indicados no foco da elipse, e as colunas se alinham quando você está exatamente nessa linha, abrindo o campo de visão para fora da praça. Eu não sabia disso quando eu estava lá, mas da próxima vez que eu for, providenciarei uma foto neste exato ponto da praça, e depois eu coloco aqui como um adendo.

Depois eu andei pela rua Borgo Pio, só para conhecer mesmo. Esta é uma rua cheia de restaurantes e lojinhas de presentes, e muito charmosinha. Depois de uma voltinha básica cheia de pontos interessantes para fotografar, eu fui para a ponte Sant’Angelo, que é uma das mais antigas de Roma. Seus 3 arcos centrais são da ponte original de 138 d.C, e fazia parte da estrada para o monumento funerário de Adriano. Foi reconstruída em 1668 e decorada com estátuas de anjos por Bernini. Do outro lado da ponte, antes havia a  Tor di Nona, lugar de torturas e execuções durante a Inquisição.





Ponte Sant'Angelo

Via Borgo Pio

Ah, Bernini...


O passeio mandava entrar no Castel Sant’Angelo (que é um dos pontos do livro anjos e demônios, ê!), mas eu não entrei porque não tinha um centavo furado para pagar a entrada, que custava 6 euros. Da próxima vez que eu for eu entro, aí eu tiro fotos e escrevo aqui tudo o que eu aprendi sobre o castelo.

Durante o trajeto entre um passeio e outro, eu estava andando e me deparei com uma Igreja que chamou a minha atenção, eu, bem burrinha, não anotei o nome da igreja (Estou escrevendo isso com 10 dias de atraso, é claro que eu não me lembro mais do nome da igreja). É uma pena, porque eu gostei muito muito dela. De qualquer forma, eu vou colocar as fotos aqui, na esperança que alguém saiba que igreja é essa e me diga o nome..












Passeio 2 -  A estrada que leva a Roma




Iniciei o passeio na Porta del Popolo, mas como eu sou burrinha esqueci de tirar fotos. 


Primeiro, vi o portão da praça, que foi projetado por Bernini para o papa Alexandre VII, para receber a rainha Cristina da Suécia. À esquerda da porta está a igreja Santa Maria del Popolo (do anjos e demônios, ê!), que foi construída no local do túmulo de Nero. Havia uma árvore no local, e ela estava possuída pelo demônio, segundo a lenda. Aí, o papa mandou queimar a árvore e construir uma capela em homenagem à virgem Maria no local. Dentro da igreja está a capela chigi, projetada por Michelângelo e feita por Bernini. Tem também dois quadros de caravaggio, na capela Cerasi. Infelizmente, a igreja estava fechada para a fucking hora do almoço. Eu voltei lá de noite, mas estava muito escuro e as fotos ficaram uma grande melecona. Além disso, a capela chigi está em restauro até fevereiro do ano que vem. Ou seja, essa parte do passeio foi bem frustrante porque tinha tudo para ser sensacional, mas não foi.

Passando pela praça, que é muito grande e bonita, entrei em uma das igrejas gêmeas, a da direita, já que a da esquerda está sempre fechada. Lembrando que as duas igrejas são gêmeas, mas não são idênticas. Tentem achar as diferenças, se quiserem. Essas igrejas marcam o início da Via del Corso, o paraíso dos turistas.


obelisco da piazza del popolo e igrejas gêmeas






Logo no Início da Via, tem o prédio aonde Goethe morou por pouco mais de 1 ano. Ele escreveria mais tarde que nunca seria de novo tão feliz como havia sido em Roma. É, será que eu vou conseguir ser feliz de novo depois que eu voltar para o Brasil?


Casa de Goethe


Continuando pela Via del Corso, eu parei na igreja Santo Ambrósio e São Carlos. Não preciso nem dizer que estava fechada para o almoço, né?!


a igreja Santo Ambrósio e São Carlos


a igreja Santo Ambrósio e São Carlos

Igreja Santo Ambrósio e São Carlos, de noite.

cúpula da Igreja Santo Ambrósio e São Carlos, de noite.




Depois eu atravessei a Ponte Cavour, para chegar até o Palácio da Justiça, que é um prédio feião. Segundo o guia, a construção dele foi difícil e cara, e agora os engenheiros estão tentando salvar o prédio, que está afundando na areia fofa das margens do rio! Hihihi...



Palácio da Justiça 

Palácio da Justiça







Passeio 3 – Velhos locais favoritos dos Papas





Fui para o bairro Laterano, aonde os papas viveram por mil anos. Esse passeio explora as origens do papado, segundo o guia sensacional. Antes de se mudarem para o Vaticano, no século 14, os papas viviam no Palácio Laterano, que antes de ser a residência dos papas, era terra de Constantino, que ele ganhou como dote de sua mulher (ufa! Quanta informação).

Fui primeiro para a Igreja San Clemente, pertinho do Coliseu. Esta é uma das 28 igrejas titulares de Roma (Seja lá o que isso significa), e existe desde o século 3. A igreja foi destruída por bárbaros em 1084, e depois foi reconstruída no século 12. Essa igreja é sensacional! Não pelo o que ela mostra, mas pelo o que tem no subsolo dela. Escavações de 10m de profundidade mostram casas romanas originais do século 1, destruídas em um incêndio em 64 d.C. Em cima das casas, tem um templo do século 2. No andar superior tem a tal da igreja do século 3, de São Clemente. E em cima, tem a igreja do século 12, que nem é tudo isso, apesar de abrigar as pinturas do início do renascimento romano. Infelizmente, não podia tirar fotos, tem que vir até Roma para conferir essa!

Depois eu fui para a igreja dei Santi Quattro Coronati, do século 4, que homenageia quatro soldados romanos, mortos com coroas de espinhos de ferro enterradas no crânio. Assim como a igreja anterior, essa também foi destruída pelos bárbaros e reconstruída só no século 12, também como uma fortificação militar. Hoje, vejam só, é um convento. Infelizmente, a igreja estava fechada. Horário de almoço, sabe como é.




Como a vida não para, eu fui para a Igreja San Giovanni in Laterano, que na verdade é um grande complexo. O batistério estava fechado; a santa escada, que é a escada de 28 degraus  trazida de Jerusalém, que dizem ter sido a escada que foi escalada por Cristo pouco antes de sua morte, também; logo, fui direto para a Igreja, que estava aberta (aleluia!)

Esta igreja é conhecida como “igreja-mãe e mais importante de todas as igrejas da cidade e da terra”. Meu deus, dispensa comentários. Dentro da igreja, tem enormes esculturas dos 12 apóstolos. No altar, uma curiosidade: só o papa tem o direito de usá-lo. Na parte superior do altar, estão os bustos de São Pedro e São Paulo em prata.



imaginem uma coisa muito alta.








Bom, as minhas impressões: a igreja é enorme! Sério, muito alta, com esculturas muito desproporcionais ao volume da igreja, e com muitas menções aos 12 apóstolos, além das evidentes estátuas. Eles estavam preparando um grande evento, colocando flores no altar, e os militares estavam ensaiando na parte de fora a forma como eles deviam entrar na igreja. Eu passo todos os dias por aqui, e eu percebi que esta igreja é importante mesmo, sempre com muitos turistas, e coisas grandes acontecendo. Lá dentro, eu me senti uma pequeninha, esmagada pelos 12 apóstolos, e intimidada pelo altar que só o papa tem direito de usar. Nem foi tão gostoso assim, mas eu acho que eu sempre me sinto um pouco assim nas igrejas. São pouquíssimas as igrejas que me fazem sentir bem quando eu entro, talvez a Sant’Ignazio de Loyola..



Não preciso nem dizer que cheguei em casa, comi, tomei banho e morri...